terça-feira, 27 de agosto de 2013

Washed Out - Paracosm

7,3/10
Sub Pop, 2013


A identidade musical de Ernest Greene tem qualquer coisa de deriva hedonista. E se a música é, bem vistas as coisas, um jogo manifestamente sensorial, porque não há-de ele borrifar-se para os considerandos de ligeireza que, muitas vezes, são apontados à recente vaga chillwave e usá-la como alicerce para música sincera e emocional? Talvez a menção à superficialidade até fizesse algum sentido no primeiro tomo como Washed Out, evidentemente mais lo-fi e caseiro, mesmo emocionalmente mais retraído, e embriagado numa electrónica corriqueira. Nessa ocasião, pese embora o pendor melódico de alguns trechos e a engenhosa justaposição de sintetizadores, a coisa soava algo previsível e insípida. Com uma premissa assim, dificilmente se adivinharia uma sucessão bem mais rica, mas a oportuna adição de guitarras, baterias e baixo acrescenta uma orgânica completamente diferente às composições, quase fazendo esquecer que a matriz conceptual é electrónica, como convém a música escapista. O melhor elogio que pode fazer-se a este renovado exercício de abstracção, por oposição ao antecessor, é o facto de deixar ressonâncias na mente, de não passar indiferente; neste Paracosm a redundância cedeu o lugar à afirmação de um discurso sonoro mais expansivo, seguramente, mas, ao mesmo tempo, mais assertivo e seguro de si.

Também por isso, se esbate irremediavelmente o acinte com que muitos consideravam Ernest Greene (e seus pares) um artista menor; e isso apenas por ele versar a mundanidade sem qualquer fátua. O próprio Green considerou Paracosm um manifesto de "psicadelia diurna". É possível que não seja tanto, tampouco chegue às ilusões imaginadas de um qualquer paracosmos, mas é um disco abundante em momentos interessantes e acima da média do que fora dado a conhecer por Washed Out até aqui.


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