quarta-feira, 25 de junho de 2008

The Great Lesbian Show - You're Not Human Tonight

7/10
Zounds
Sabotage
2008
www.lesboscorp.com



A inconstância parece ser um conceito caro aos lisboetas Great Lesbian Show. O alinhamento do ensemble foi alvo de inúmeros ajustes desde a formação no longínquo ano de 1992, emprestando uma dose significativa de incerteza à sua sobrevivência - facto confirmado com a cessação de actividades, seis anos depois da fundação e ainda sem um registo discográfico para a posteridade, e a ulterior transição para um novo arranque em 2001. Além disso, as contingências do estrito mercado editorial adiaram sucessivamente um debute discográfico anunciado, amputando a banda da amplitude comercial de uma afirmação paulatinamente conseguida em palco. Apenas em 2004 os escaparates mostraram Psykitsch Kaleidoscope, primeiro registo dos GLS que, após de três anos de penosa suspensão e indiferença das editoras, veio dar a conhecer o dissonante e insano cocktail de experiências rock de Ondina Pires (ex-Pop Dell'Arte) e seus pares. You're Not Human Tonight, embora gravado sem a urgência do antecessor e contando com uma produção mais "profissional" (de Jorge Ferraz), é um idêntico manifesto de libertinagem rock. É difícil encontrar, no panorama actual da música lusa, um disco mais diletante e despretensioso do que este, não só por convocar referências estéticas de vários quadrantes (aparentemente imiscíveis) mas, sobretudo, por ser fiel a uma ética compositiva faça-você-mesmo rara cá no burgo. A experimentação, muitas vezes disfarçada de improviso incontinente, continua ser o combustível da surreal irreverência do quinteto e de uma identidade mutante que vai do rock fumoso à electrónica sorumbática, do ruído casual à dissonância, da garagem ao clube nocturno, da charanga profana ao pecado punk. Mesmo faltando "a" grande canção a este You're Not Human Tonight - o que continuará a ser um óbice para a chegada dos GLS a outros públicos - são notórios a maturação e o crescimento artístico da banda, bem como a gestão mais apurada do desconcertante turbilhão de energias criativas que mora no quinteto lisboeta. E, se prescindirmos de qualquer requisito de congruência na apreciação do disco - coisa despropositada quando se aprecia um trabalho dos GLS porque não é essa a identidade deles - o disco ganha formas de experiência auditiva mais compensadora do que parece à primeira escuta.

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