sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Phosphorescent - Pride






Apressadamente entronizado pela crítica especializada como um dos mais fidedignos herdeiros de algumas das ramificações genealógicas da folk americana "tradicionalista", Matthew Houck tem no conceito Phosphorescent um espaço de curiosas manifestações musicais. Mais do que meramente fazer jus a esses rótulos que quiseram colá-lo ao legado Dylan, a música de Houck desvenda não só os reflexos de um aturado processo de transcrição dessas referências para a modernidade, mas também uma imensa vontade de afirmar um cunho próprio. Nesse particular, e num registo que pede meças às órbitas mais inspiradas de Will Oldham, marcam pontos uma voz de belas inflexões e com peso melódico impressivo e a profundidade estrutural das composições. De resto, Pride - terceiro tomo de Houck - é um disco que aposta em duas dimensões da emoção, aquela que se refugia na íntima e melancólica balada sem artifícios técnicos, ou, a outro nível, aquela que se ampara em revestimentos levemente mais psicadélicos (aí se reconhecendo algumas afinidades, ainda que distantes, com os Animal Collective - ouça-se o tema de abertura) ou de espiritualidade tipicamente sulista. O resultado é ambíguo, simultaneamente vulnerável e possante, distante do típico registo de cantautor e com momentos de belíssima construção melódica com arranjos. E os ápices de criatividade acontecem quando, em impressivas multiplicações de si mesmo e da sua voz, Houck se desassombra com os seus próprios fantasmas e personalidades solitárias e nos encanta ao mostrar faces diferentes de uma mesma verve. A soberba tríade "A Picture of Our Torn Up Praise" / "Wolves" / "My Dove, My Lamb" eleva faíscas acima das competências do resto do alinhamento mas isso não macula o desempenho global do opus. Todavia, fazendo bitola da mágica sedução desse trio de peças, fica a sensação de que há em Houck um impressivo filão de recursos à espera de ainda melhores obséquios. E que está na calha, para os anos vindouros, um disco ainda melhor do que este.

Sem comentários: