sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Youssou N'Dour - Rokku Mi Rokka

6/10
Nonesuch Records
2007
www.youssou.com



Embora Youssou N'Dour seja um daqueles artesãos de música que imediatamente é conotado com o nicho generalista da world music - preguiçosa tipificação que pouco mais faz do que juntar na mesma estirpe tudo o que está nas margens das latitudes e longitudes da primeira linha da música mainstream - a verdade é que, também ele, adquiriu uma projecção mediática além desses mercados "secundários". E isso deveu-se, em primeira instância, à exposição crescente da sua voz na segunda metade da década de oitenta, mormente em discos consagrados de Paul Simon (Graceland, de 1986) e Peter Gabriel (So, do mesmo ano) e, também, ao activismo pelos direitos humanos que o levaria a dividir palcos, numa digressão da Amnistia Internacional de 1988, com gente como Bruce Springsteen, Tracy Chapman, Sting e o próprio Peter Gabriel. Paulatinamente, a música de N'Dour adquiriu expressão planetária, galgando as fronteiras do Senegal e, num plano mais ambicioso, vencendo barreiras estéticas próprias do som africano. A consagração internacional, em 1994, no celebérrimo dueto com Neneh Cherry (em "Seven Seconds", parte integrante do álbum Wommat) constituiu o corolário lógico de um percurso sempre em ascensão e confirmava, se dúvida ainda houvesse, as novas afinidades com correntes de som bem distantes das suas raízes m'balax (fusão de harmonias pop com colorações rítmicas afro-caribenhas) no grupo popular Super Étoile de Dakar.

Hoje, com mais de vinte discos editados e um trajecto irrepreensível no desejo de casar cadências e sabores africanos tradicionais com adornos importados da modernidade (chame-se-lhe "experimentalismo"), N'Dour é um seguro baluarte do que vale a pop africana ou, numa esfera mais íntima, do que é digna a diversidade sonora do Senegal. Ele tem, afinal, um duplo protagonismo: enquanto embaixador de linguagens ancestrais, transporta substratos do mais fino atavismo e tradição e, ao mesmo tempo, soma-lhes um espírito renovador. As vantagens conceptuais dessa mescla, como os altos e baixos da discografia de N'Dour confirmam, nem sempre são certos. Em boa verdade, Rokku Mi Rokka não é, nem de perto nem de longe, um disco magno. A presença incrivelmente catalizadora do ngoni de Bassekou Kayate - um dos sublimes instrumentistas da corrente cena maliana - não chega, em grande parte do álbum, para corrigir a decepção das melodias. Um recurso tão magicamente engenhoso quanto a voz de N'Dour - lembrem-se as sublimações derivações sufi do antecessor Egypt, de 2004 - merece outro serviço. E isso, a despeito da produção hábil do disco e de alguns instantes de boa poda ("Sama Gàmmu", "Létt Ma" ou "Dabbaax"), não chega para fazer de Rokku Mi Rokka um documento à altura do melhor Youssou N'Dour.

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