sábado, 10 de novembro de 2007

A Place to Bury Strangers




O aparato com que estes debutantes se apresentam sob o epíteto de banda mais volumosa de Brooklyn, por si só, é demonstração de uma postura ambivalente: ou a afirmação é pejada de arrogância (e espírito provocador) típica de recém-chegados à cena rock ou, pelo contrário, é sintomática da confiança que o grupo deposita na matéria criada. Ao mesmo tempo, dessa afirmação identitária derivam duas outras reflexões indirectas: uma é do domínio da contextualização, ao situar a música dos A Place to Bury Strangers no cenário criativo de uma das cidades da Grande Maçã, alinhando-os geograficamente com o berço de projectos como os Clap Your Hands Say Yeah, as Au Revoir Simone, os Oneida ou os Black Dice (todos de Brooklyn); a outra, mais eloquente quanto ao produto musical de per si, reside na utilização do trio nova-iorquino de um adjectivo conceptualmente tão encriptado para etiquetar a sua música. Volumosa.

Dizem os dicionários que, quando associada a vibrações sonoras, essa adjectivação exprime um som forte e cheio. E, de facto, assim são as substâncias do disco, em volumes altos, distorções redundantes e pedais, efeitos e ruídos. E densidades importadas do shoegaze. Coisa mais ou menos normal, depois da aventura (falhada?) de Oliver Ackerman, guru do projecto, nos precocemente extintos Skywave, onde se entretinha a descobrir os manuais da dream pop de olhos no chão. Agora, a tecedura é outra. E as influências primazes estão fora da América. Com os Jesus and Mary Chain (estes acima dos outros), os My Bloody Valentine ou os Spacemen 3 como luminárias, Ackerman e seus pares, partem em busca da pedra filosofal - o que é o mesmo que dizer de um novo Psichocandy. Afinal, os Jesus and Mary Chain também tiveram na estreia o auge de um percurso de quinze anos! Claro que comparar o primeiro opus dos A Place To Bury Strangers com uma obra tão emblemática quanto essa pode ser uma deriva de entusiasmo exagerado, mas não deixa de ser verdade que o disco capta como poucos (e foram muitas, imensas, as tentativas passadas de o fazer) a feição mais electrizante, misantrópica e perturbada do shoegaze. E tecnicamente o conceito é simples: texturas de guitarra em distorções ecoantes e filtradas por efeitos de pedal, feedback e estática, linhas de baixo robustas e um sentido colateral de percussão. Depois, a voz é volante, vagueia como um espectro e, mesmo num registo aparentemente estéril e sem ansiedade, tem o condão de imprimir um romantismo depressivo (e surpreendentemente "melódico") às canções. Melhor sucedâneo para saudosistas dos Jesus & Mary Chain não há, mesmo que trepando algumas décimas na escala de dBs.

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