terça-feira, 15 de maio de 2007

Tori Amos - American Doll Posse

7/10
Sony BMG
2007
www.toriamos.com



A americana Tori Amos sempre se valeu de uma personalidade artística imune a modas e desassombrada q.b. para versar sobre a pátria sob um prisma crítico e auto-consciente, as mais das vezes socorrendo-se da construção de "bonecos" metafóricos (e subsequente redução da sociedade americana à dimensão individual e generalista de estereótipos simbólicos e passíveis das mais variadas interpretações) e projecções abstractas de uma realidade briguenta, com clivagens sociais e, sobretudo, "perversa" nas disparidades. No fundo, o conformismo não é parte do léxico da compositora e isso volta a ser notório neste American Doll Posse, um álbum construído em torno de cinco figuras imaginárias (as tais bonecas americanas...), cada uma delas com poética e estética sonora próprias: Tori (a sulista independente e hedonista), Pip (a punk crua e desiludida com a modernidade), Isabel (a orgulhosa activista política), Clyde (a sonhadora romântica) e Santa (a pragmática, déspota e possessiva). Ainda que musicalmente o disco pouco adicione aos predicados já conhecidos de Amos - apesar de conter alguns momentos primorosos ("Big Wheel", "Body and Soul" ou "Bouncing Off Clouds" são exemplos) - e o seu alinhamento erre por excesso (23 faixas!), não deixa de ser um exercício de pop astuta e, ao mesmo tempo, um curioso retrato das múltiplas dimensões e ambivalências da mulher americana moderna. Por extensão, esta colecção de "donas de casa desesperadas" (sem as inanidades da série televisiva) e suas histórias quotidianas, mostra-nos fragmentos de uma América desconsolada e claustrofóbica, quase alérgica a si mesma e à cata de uma nova identidade.

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