segunda-feira, 16 de abril de 2007

Au Revoir Simone - The Bird of Music

6/10
Moshi Moshi
2007
www.aurevoirsimone.com



Não é facto novo que a metrópole de Nova Iorque, muitas vezes pomposamente citada como capital do mundo, se tornou o símbolo do empório cosmopolita por excelência e ponto de convergência de migrações, primeiro dos peregrinos da Revolução Industrial, depois dos perseguidores multinacionais do sonho americano e, mais recentemente, do movimento yuppie da alta finança e dos novos-ricos. As repercussões históricas dos consequentes cruzamentos de culturas e gerações, tornaram a Grande Maçã um verdadeiro mosaico de culturas (confirmadas na miríade de comunidades estrangeiras que proliferam nos arrabaldes da cidade), de pulsares e emoções distintos. Foi nesse ambiente estruturante que cresceu a tríade Au Revoir Simone. Não é que a sua música seja o mais fiel representante dessa "transnacionalidade" ou sequer demonstre sinais de algum atavismo. Pelo contrário, The Bird of Music, recurso elogiado pelo cineasta David Lynch, é moderno e perfeitamente actual. E ser moderno, na Nova Iorque de hoje, significa (como tão bem Lynch nos habituou) ter aptidão para captar o lastro de melancolia que deriva das fracturas identitárias da cidade que não dorme (Sinatra lembrava) e, ao mesmo tempo, encontrar laivos de esperança entre os inúmeros caracteres de uma construção social com clivagens depressivas e estímulos contrastantes. E as Au Revoir Simone, munindo-se apenas de ingredientes sintéticos, agarram essa essência nuclear de Nova Iorque, cruzando os estados misantrópicos em que a mente (e o indivíduo) se refugia na melancolia e no isolamento com o confiante ânimo de quem presume a efemeridade das coisas e, por arrastamento, a transitoriedade do desgosto. É assim que esta música se afirma, ambivalente nas substâncias psíquicas, mas empenhada na regeneração das suas próprias inquietudes e desilusões, ao jeito da mesma cura que os Stereolab encontraram para as tonturas de Londres, embora com uma alquimia instrumental diferente. Aqui, bastam umas batidas (se não fosse a datada caixa de ritmos a coisa podia soar melhorzinho...) e fraseados melódicos de sintetizador para elevar a moral do mais esmorecido nova-iorquino. E isso, mesmo sem uma inspiração especial na composição, chega para lembrar que a languidez de espírito é um lugar estranho. E, afinal, não é só em Nova Iorque que, como dizem as Au Revoir Simone, tomorrow is eventual...

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