quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Damien Rice - 9

Apreciação final: 6/10
Edição: Warner, Novembro 2006
Género: Folk-Pop/Cantautor
Sítio Oficial: www.damienrice.com








Outrora um puto rebelde em busca de um espaço próprio no rock irlandês Damien Rice é, hoje, um nome firme da pop-folk britânica, volvida uma década desde os primeiros passos com o colectivo Juniper. Postos de parte esses arrebiques guitarreiros, Rice fez-se canto de melancolias espessas. "The Blower's Daughter", inesquecível peça de produção espartana que musicava repetidamente a película Closer (2004), de Mike Nichols, foi a mola mediática. Com a súbita chegada ao estrelato, o menestrel irlandês terá sentido, na preparação do segundo disco, a urgência de incutir outras marchas à sua música. Do tom platónico de O, pouco resta. Não se perdeu o tom aberto e confessional do debute, mas 9 encerra outra dinâmica instrumental, seja no recurso mais frequente ao piano (brilhante em "Accidental Babies") ou, surpresa maior, na incursão pela transparência rock. Coisa estranha (e dispensável) esta, a de escutar um trovador nas distorções de "Me, My Yoke & I"! No resto, há um pouco mais do mesmo, mormente no canto forrado a veludo de Rice, com as infalíveis oscilações de registo (do frágil e sussurrado à paixão da voz com corpo próprio), e nos exímios arranjos de cordas, de fino porte, essencialmente minimalistas, a oferecerem o complemento justo aos ângulos emocionais de 9. Lisa Hannigan, voz de flanco no primeiro álbum, e a violoncelista Vyvienne Long repetem o bónus e ajudam à eloquência do disco. Ainda assim, há em 9 uma superficial tentação pelo cliché ("Rootless Tree" é declaradamente uma amistosa amostra radio pop e "Coconuts Skins" tresanda a Paul Simon), coisa menos óbvia em O, e isso acaba por tornar o alinhamento algo aliterante e pouco sólido. Depois, o espectro de "The Blower's Daughter" povoa de través o disco, ou funcionando como mera luminária - quando Rice deposita emoções nas suas baladas mínimas - ou como ensejo formulista ("Elephant" roça o copy-paste, se esquecermos o crescendo final).

Se o entusiasmo instrumental (e a mudança pontual de tempos) transporta o disco para dimensões supostamente menos depressivas e até, aqui e ali, um pouco experimentais, por comparação com o antecessor, é porque Rice sentiu o pulso da mudança. Depois de tirar as medidas a 9, faz-se ilação imediata: ele sai-se melhor em narrativas baladeiras do que em ensaios camaleónicos noutras estirpes de som. E isso porque falta bússola ao desejo de mudança. Pois que se fique, por ora, nas loas de desamores e embaraços passionais e, quando se tentar ver livre das sombras de "The Blower's Daughter" (é possível?), que seja para valer. Às vezes, é melhor ter-se só duas cores, mesmo que elas sejam apenas gradientes do preto.

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