quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Blood on the Wall - Awesomer

Apreciação final: 7/10
Edição: The Social Registry, Setembro 2005
Género: Rock Revivalista
Sítio Oficial: www.bloodonthewall.com








A carga nostálgica do segundo álbum dos nova-iorquinos Blood on the Wall só pode ter resultado de um entre dois factores: ou os irmãos Shanks se deixaram cristalizar num confortável registo sonoro que recarrega (imita?) as munições dos Sonic Youth, dos Pixies e dos Violent Femmes, também dos mais velhinhos Stooges e Cramps, ou, por outro lado, eles são mesmo assim e contentam-se com uma polpa deliciosamente retro. Awesomer é um transplante que faz uma tradução anacrónica dos conceitos indie do arranque da década de 90 e da escola punk dos 70's. O som desfaz-se em paisagens negras e devaneios etilizados de índole apocalíptica, com ângulos da mais rude e mordente pop. A guitarra e o baixo fervilham nesse abismo de ideias díspares, juntando-as como peças de um puzzle truncado. O ouvinte fica refém deste desatino turbulento, numa excursão alucinada aos quatro cantos do rock, com paragens rápidas. E porque em Awesomer o tempo é unidade diminuta, os momentos são pungentes e fervorosos, quase asfixiantes, não receiam expôr as brechas de uma certa puberdade criativa e ironizam abertamente, ao jeito de uma farsa, os despojos musicais que resgatam do passado.

Awesomer é uma espécie de máquina do tempo musical porque nos reporta a eras que viram explodir a irreverência e a depravação no rock e, mesmo não promovendo a ascensão de algo particularmente novo, tem o mérito de espicaçar memórias caídas em torpor e agitar a cena rock de NY. Isto é rock esquizofrénico e desmazelado mas tem coração. Soa relativamente trasladado, é certo, mas tem vida e formas próprias. Afinal, que melhor preito pode render-se ao rock dito clássico do que receber com agrado as suas normas, incutir-lhes um temperamento remoçado e umas nuances pessoais e fabricar um disco apetecível? Foi isso mesmo que os Blood on the Wall conseguiram com este Awesomer que, como o título indica, é um segundo álbum ainda mais impressivo que o trabalho de estreia.

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