terça-feira, 15 de novembro de 2005

Why? - Elephant Eyelash

Apreciação final: 7/10
Edição: Anticon, Outubro 2005
Género: Indie Pop-Rock
Sítio Oficial: www.anticon.com








Os Why? são um dos mais abstractos colectivos da actual música alternativa americana. Desde os títulos de baptismo do projecto e dos respectivos álbuns às alusões simbólicas das capas dos discos, os Why? subscrevem uma atitude que desafia convenções. O novo trabalho do projecto (o terceiro longa duração, sempre com a chancela da Anticon) iniciado a solo por Yoni Wolf (quem não se lembra dele nos inventivos cLOUDDEAD?), e reconvertido recentemente ao formato de banda, é o desfile de uma dúzia de composições recalcitrantes e que adoptam moldes multi-géneros, algures entre o rock psicadélico, a folk melancólica e a pop mais colorida e bizarra. A mescla é alimentada por um arsenal de instrumentos (a)variado, com guitarras, xilofones, pedais de efeitos, percussões caprichosas e mesmo panelas e tachos. Depois, o registo vocal de Yoni Wolf - principal veículo do imaginário lírico do disco - é multidimensional, capaz de assinar com idêntico requinte as atribuições de um crooner enamorado, de um nostálgico poeta, de um rapazote tímido ou de um adulto convicto. Elephant Eyelash é uma aventura para o auditor. A folia pop é a camada mais imediata deste álbum, não abdicando do traço truncado típico da escrita de Wolf mas incutindo-lhe uma trajectória com rumo, sem os altos e baixos súbitos de outros trabalhos do músico. Contudo, apesar da catarse pop resultar mais conforme e de as canções se segurarem sem cambaleios, Wolf não extinguiu o plano anti-convenções e as esquisitices subjectivas das suas metáforas. O que mudou então? Do existencialismo sujo do passado, das contingências crespas doutros trabalhos, Wolf mudou-se para uma vibração mais colorida, com mais coração. Em Elephant Eyelash o experimentalismo underground dos cLOUDDEAD é nada mais do que uma miragem e, nesta nova pele, Wolf sente-se como peixe na água. Ou finge bem.

Elephant Eyelash é um ensaio estruturado do absurdo. E joga-o com sentido de risco mas também com orientação, mesmo que isso implique, aqui e ali, o recurso a clichés gastos. O desfecho é um álbum conexo, com um recheio harmónico precioso e um laço instrumental proporcionado. Ainda que se possa questionar a reorientação estilística de Yoni Wolf e dos Why?, não devem negar-se os préstimos de um disco que, não sendo uma obra-prima, expõe o rosto do génio excêntrico de um músico em metamorfose. E se a mais recente fase da transformação é uma pestana de elefante, deixemos o rapaz fantasiar. Enquanto a mudança não se sublima, ouçamos o disco. Porque vale a pena.

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