terça-feira, 7 de junho de 2005

Deadbeat - New World Observer

Apreciação final: 6/10
Edição: Scape Germany, Abril 2005
Género: Dub/Ambiente/Electrónica








O canadiano Scott Montheit (leia-se Deadbeat) é um astuto artesão de paisagens sonoras opulentas que partem de uma raíz dub e lhe sobrepõem estratos instrumentais multifacetados. Da fusão premeditada com minúcia resulta uma massa sónica consistente e fecunda onde se cruzam melodias electrónicas estranhas, talvez mais sombrias do que nos registos anteriores de Montheit. A essa condição mais negra de sonho desfeito não é indiferente o vínculo das composições ao "novo mundo" (vide título do disco), aos conflitos bélicos no Médio Oriente e à política externa dos Estados Unidos da América. Ainda assim, não se trata de um álbum "político"; é antes um produto que mói em revolta contemplativa deste "mundo" e que acrescenta ingredientes diversos ao património de Deadbeat. Pistas para um redireccionamento? A presença, ainda que esparsa, de uma voz feminina - a canadiana Athesia foi a convidada - e a complexidade orgânica acrescida das composições são os factores distintivos deste New World Observer. A paleta acústica de Deadbeat sai reforçada deste trabalho e, sem prejuízo da força manipuladora da sua música, adquire um estilo emotivo e uma dimensão humana não descobertos antes e que, certamente, alargarão a esfera de séquitos de Montheit.

Musicalmente, New World Observer é um discurso assertivo e revelador da destreza digital renovada pelo músico, sem brilhantismo especial. Mas é mais do que isso: é também o aguçado testemunho de um observador zeloso do "novo mundo", um universo impotente face às suas próprias fraquezas. Montheit captou-as musicalmente e expõe-nas com sensibilidade, num fino travo Jamaicano com o embalo da electrónica Montreal. Um disco mais forte pelo apelo humanista do que pela pujança criativa, New World Observer é um pedaço de mundo real que merece, mais do que uma audição, uma meditação.

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