segunda-feira, 20 de junho de 2005

The White Stripes - Get Behind Me Satan

Apreciação final: 7/10
Edição:V2, Junho 2005
Género: Indie Rock/Blues Alternativo
Sítio Oficial: www.whitestripes.com








Naturais de Detroit, Jack e Meg White dispensam apresentações. Eles são a alma dos White Stripes, bizarro projecto rock alternativo que, à custa de um formulário minimalista, se propõe a reinvenção do rock, tributando veneração a um certo revivalismo, sempre timbrado com o cunho idiossincrático dos Whites, seja no discurso assertivo da guitarra de Jack ou na irreverência das percussões de Meg. Contudo, em Get Behind Me Satan há algo de diferente, um pormenor distintivo que expande os limites da linguagem musical do grupo: a guitarra eléctrica é preterida - o disco só tem três faixas eléctricas - em favor do piano, dos efeitos de percussão e da marimba. Esta substituição instrumental não falha o propósito de captar a quididade específica dos Stripes mas reviça, num jeito menos ortodoxo, os padrões da dupla americana. Daí deriva uma assinatura sónica diferente, menos combustível do que no passado, igualmente espontânea, mas com o traço de rascunho de um trabalho de transição: viragens ininterruptas e inflitrações de elementos inopinados. A estrutura ambígua e minimalista do tecido sónico do grupo resiste à reconstituição instrumental e até adquire dimensões novas, pescadas de arquétipos artísticos estranhos aos Stripes. Estes indícios de reencaminhamento dos White Stripes são um depoimento inabalável de maturidade que, se resvalam para a excentricidade (ou incompletude?) em determinados instantes de Get Behind Me Satan, não deixam de confirmar a dupla como uma das mais sólidas referências do ideário rock hodierno.

Get Behind Me Satan é uma colecção de canções ostensivamente garridas que se apartam da equação guitarra + bateria típica do grupo e que resgatam, com a erudição dos músicos maiores, incógnitas de espaços sónicos virgens. Desta álgebra indagatória dos White Stripes, vertida no quinto registo de estúdio, provém um impulso perverso de confronto que dividirá os fãs do grupo: os Stripes estão mais crescidos, mudaram e orgulham-se da transformação. Apreciarão os séquitos da sua música? Escutado o disco, percebidos os seus méritos e falhas, resta uma dúvida: o aforismo bíblico que baptiza o disco reclama o amparo ou proclama a subjugação do Príncipe das Trevas? De qualquer jeito, Get Behind Me Satan consagra uns White Stripes surpreendentemente menos rock e mais melódicos mas insuperavelmente cativantes. Como sempre.

1 comentário:

Spaceboy disse...

Também gostei muito do novo disco dos White Stripes. Em breve falarei dele no meu humilde blog.