segunda-feira, 2 de março de 2015

Os Capitães da Areia - A Viagem d' Os Capitães da Areia a Bordo do Apolo 70

7,9/10
Amor Fúria, 2015

Não tínhamos notícias discográficas deles há quase quatro anos quando, pela Amor Fúria, nos deram o primeiro registo com corpo de álbum, no seguimento de um punhado de canções soltas que puseram sobre Os Capitães da Areia a curiosidade dos melómanos nostálgicos dos anos 80 da pop lusa. Quando passou o efeito desse disco (O Verão Eterno), embora sem expressão mediática verdadeiramente significativa, ficamos convencidos de que naquele quarteto de "capitães" radicado em Lisboa havia sumo suficiente para muito mais. No fundo, os rapazes davam-nos um cheirinho do que podia ser música pop (ou pope, como eles preferem grafar) jovial e soalheira, com a luminária sempre presente de gente como os Heróis do Mar ou os Radar Kadafi, mas capaz de acolher referências de contemporaneidade oportunas. Ainda assim, poucos adivinhariam que no regresso do grupo aos discos, depois do quase silêncio dos últimos tempos, estaria um espirituoso álbum conceptual, coisa rara cá pelo burgo e mais própria de criaturas enfatuadas. E, mais ainda, que esse disco tivesse como mote a viagem intergaláctica do agora quinteto, a bordo do velhinho centro comercial Apolo 70, feito nave de ocasião.  Na história musicada que segue o alinhamento desfilam convidados de vários quadrantes; a saber, sem nenhuma ordem em especial: Capitão Fausto, José Cid, Samuel Úria, Toy, Rui Pregal da Cunha, Tiago Bettencourt, Bruno Aleixo, as Adufeiras de Monsanto, Miguel Ângelo, Lena D'Água...e a lista continua, em setenta e cinco minutos de música sem interrupções.

Na proposta musical propriamente dita, há motivos de sobra para considerar que este álbum pode figurar nos momentos históricos da pop portuguesa, não apenas porque raramente os protagonistas da nossa cena musical arriscam desta maneira, mas sobretudo porque a música que aqui vem é boa. O psicadelismo electrónico e o desprendimento formal moram aqui, como convém numa empreitada deste género, mas a produção apuradíssima (a cargo do "boss" Manuel Fúria) é o verdadeiro fio condutor que dá sentido à saturação de ideias desta viagem louca. Refine-se tudo com sentido de humor (mesmo com alguns interlúdios inanes) e aí está um disco com uma virtude incomum e que passará despercebida aos mais presunçosos: é o álbum conceptual menos pretensioso da história.  E isso só pode ser coisa louvável. Afinal, é bom quando nos levamos menos a sério.

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