terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Panda Bear - Meets the Grim Reaper

7,8/10
Domino, 2015

Já não há dúvidas: cada disco que Noah Lennox faz nascer é um acto de atrevimento. Parece fervilhar nas veias do americano, tornado célebre como quinhão importante dos seminais Animal Collective, uma bizarra excitação com a anormalidade pop. Ao quarto registo individual, pode dizer-se que já passou o ponto de não retorno e não se tem dado mal com o propósito de desmontar convenções e de as virar do avesso, no devaneio individual que começou, há onze anos, com o despojo fracturado do quase-acústico Young Prayer, até chegar ao delírio electrónico deste Meets the Grim Reaper. Nesse percurso, a música de Lennox mudou de traje algumas vezes, é certo, também conheceu amplitudes diferentes, mas conservou sempre o experimentalismo e levou-o a limites de excentricidade que nunca poderiam caber em canções convencionais. Panda Bear é, afinal, uma marca musical de impulsos e isso é particularmente evidente neste novo disco. De um lado, está o ímpeto (incontinente?) de saturar as canções com tudo e mais alguma coisa que seja electrónica e, ao mesmo tempo, conseguir mantê-las leves, melódicas e, no final, atraentes como um sonho.

Quando acontece, como neste Meets the Grim Reaper, que Noah Lennox encontra os caminhos melódicos para escapar dos seus próprios delírios, o universo Panda Bear ganha improvável verosimilhança e é precisamente aí que nos cativa. E este talvez até seja o exercício mais gracioso de Lennox, pelo menos tanto quanto pode sê-lo um disco forjado pela sua mente efervescente, provando-nos que a jornada em desafio do som (e da canção) está longe da meta e, ainda assim, pode dar-nos cândidos momentos de música.

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