terça-feira, 1 de abril de 2014

Cloud Nothings - Here and Nowhere Else

 
8,1/10
Carpark Records, 2014

Colocado no mapa mediático pelo muito louvado Attack on Memory (2012), o projecto Cloud Nothings viu a sua música subitamente exposta ao exame da curiosidade generalizada. Se, na ocasião, a destacada intervenção de Steve Albini na produção ajudou a exponenciar o fenómeno, foi a música de Dylan Baldi (o mentor do conceito) que granjeou o reconhecimento geral, dando mostras de uma maturidade que não havia sido antecipada nas primeiras manifestações, sobretudo quando gravava sozinho na cave dos pais. De resto, essa energia primitiva e o espírito individual foi-se mantendo precisamente até ao disco de há dois anos, em que são creditados os restantes integrantes - já companheiros de estrada (TJ Duke, baixo, Joe Boyer, guitarra, entretanto e Jayson Gerycz, bateria) - pela primeira vez. A coincidência temporal do facto de passarem a ter corpo de banda devidamente emancipada da rusticidade caseira, com a interferência de Albini, ajudaram a redimensionar a música de Baldi, a ponto de o disco marcar um clivagem estrutural com os dois antecessores, sobretudo nos domínios da composição (mais assertiva) e da produção, a reanimar-lhe o pendor abrasivo.

Sob estas premissas, Here and Nowhere Else teria sempre à frente um escrutínio apertado, mais ainda depois de ser apresentado, pelo próprio Baldi, como um disco menos quezilento. Sabendo-se que era precisamente esse espírito de motim uma das causas motrizes do disco, o desvio anunciado pareceu um anátema lançado por Baldi ao novo álbum, com o natural efeito de alimentar vagas de curiosidade ainda maiores. Jogada intencional ou não, a verdade é que não se sente essa mudança "emocional". A produção - agora a cargo de John Congleton (Swans, St. Vincent, Bill Callahan, Xiu Xiu) - segue os trilhos de Albini, alumiando a acidez das guitarras e da voz de Baldi e trazendo a percussão (excelente!) à primeira linha. Em tudo o resto, a música é fiel ao niilismo-com-o-seu-quê-de-punk-austero de outros trabalhos, muito física e directa, sobrecarregada e bem escrita, a meio termo entre o furor incontinente e a melodia rock. Um digno sucessor de Attack on Memory, portanto.

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