quinta-feira, 17 de julho de 2008

Tiago Guillul - IV

7/10
Flor Caveira
Mbari
2008
www.florcaveira.com



Indicados nos últimos tempos por outros ou assumidos pelo próprio, têm-se multiplicado os comentários sobre Tiago Cavaco (Guillul, em hebraico) e os exercícios de rotulagem da sua música. Se até há bem pouco tempo, mesmo depois da edição em CD-R deste trabalho, em finais de 2007, o músico lisboeta gozava de um anonimato quase total e das pacatas condições de pastor baptista em S. Domingos de Benfica e blogger do "clássico" Voz do Deserto, a afirmação dos Pontos Negros - que haviam sido "descobertos" por Tiago - atraiu atenções para as propostas libertárias do selo "underground" Flor Caveira (que ele fundou) e, por arrastamento, para a música do seu fundador. A reedição de IV em formato CD, com um punhado de composições extra, é o corolário assumido de alguns lançamentos avulsos dos últimos anos e apresenta definitivamente ao mundo musical português um protagonista a merecer sair do "buraco" do desconhecimento. Há na música de Tiago Guillul mais substância do que a do natural objecto de culto em que se transformou. Construídas com a segurança de quem acumula alguns anos de experimentação e depois de ultrapassado o teor panfletário baptista dos primeiros ensaios musicais, as canções de Tiago Guillul são, hoje, produtos amadurecidos pelo tempo, certeiros na conjugação de sabores retro (a música punk e o romantismo rock dos oitentas são heranças mais ou menos assumidas) e de um certo folclore estético que lhes empresta imprevisibilidade e fantasia. A isso junta-se a utilização hábil da língua portuguesa e do escárnio como veículo de uma mensagem sempre perspicaz e bem dirigida. É aí, no virtuoso uso do português, que IV marca mais pontos, ao actualizar a relação entre música e remoque social, trazendo-a a fasquias pouco comuns cá no burgo. E desenganem-se aqueles que, trazidos à música de Guillul pelo epíteto de "pastor do novo rock cristão", pensam encontrar aqui um opúsculo do protestantismo. O que vale é a música, da religião sobram brevíssimas insinuações. E a música tem todos os condimentos de um clássico: é bizarra, fresca, inteligente, sarcástica e tem muita personalidade. Ainda vai converter umas quantas almas tresmalhadas dos ofícios do espírito...

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