quarta-feira, 7 de maio de 2008

Santogold - Santogold

8/10
Lizard King Records
Edel
2008
www.myspace.com/
santogold




O trabalho precursor de desbaste e sedução de consciências para um formato inusitado de mesclar, com amplitude pop e medidas dançantes, influências da electrónica, do hip hop e do grime e cadências rítmicas das ruas de qualquer parte do mundo, estava feito por M.I.A., mormente desde que o mundo melómano foi tomado de surpresa pela vivacidade de Arular, lançado em 2005 como uma espécie de manifesto de música transnacional. Foi "Creator", single introdutório do álbum de Santi White (ou Santogold) que, à chegada aos escaparates, no ano transacto, motivou uma onda de comparações (justificadas) com a britânica, então aguçando a curiosidade pelo anunciado delfim artístico de M.I.A., sobretudo depois de o segundo registo desta (Kala) ter deixado espaço, atrás de uma subliminar desilusão, para o surgimento de sucedâneos.

Escutado, agora, o álbum que acolhe esse single, continuam indisfarçáveis as convergências estéticas com M.I.A., embora se notem diferenças interessantes e que, em último caso, são também as fundações de uma identidade que se descola das referências. Essa "autonomia" começa, desde logo, num investimento mais firme noutras escolas estéticas, não cedendo ao domínio da cartilha hip hop (aqui menos presente do que na discografia M.I.A.), mas essencialmente convocando sabores da electrónica independente, do new wave clássico, do dub ou, surpresa maior, do rock de última geração. O resultado é um disco pleno de inventividade pop, com canções bem construídas - longe do fôlego de guerrilha de M.I.A. - e alvo de uma produção certíssima (Diplo, Disco D, Chuck Tree, XXXchange e a própria M.I.A. assinam). A isso, some-se um eclectismo consequente e sem desorientação, em volta das mais comuns linguagens da música urbana corrente, que empresta ao álbum o dinamismo e diversidade próprias de um objecto para consumir horas a fio. Santogold é um festim luxuoso de texturas entusiasmadas pelo digital, de exorbitâncias e combinações de estilos, de uma voz que faz circunstâncias (ao invés de, a elas, se acomodar), de sentido de proporção entre a estrutura melódica e o apelo da dança (sem sobreposições) e, por tudo isso, é uma das grandes revelações da primeira metade do ano.


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