terça-feira, 25 de setembro de 2007

Múm - Go Go Smear the Poison Ivy




Quando os islandeses Múm (ou, se preferirmos o grafismo dos discos, múm) se estrearam nas lides discográficas, há sete anos, revelando a ambivalência estética de um conceito electrónico que combinava a complexidade estrutural da IDM e do glitch - aí colhendo, embora em cadências mais lentas, ensinamentos de Autechre ou de Aphex Twin - com inteligentes fragmentos de pura delicadeza melódica (sublinhados pelas vocalizações casuais), poucos deixaram de se render. De então para cá e até este álbum, a definição musical do quarteto não se desviou desse pressuposto de fazer da "micro-electrónica" (por inerência do detalhismo orgânico das peças) o esteio de conteúdos que são pop - porque apelam a estímulos imediatas do ouvinte - sem o serem formalmente - porque trazem revestimentos algo complexos - mas que, acima disso, articulam o escapismo e hipnose de um conto de fadas com a erudição e complexidade da música "cerebral". Por isso, cada disco dos Múm era um esfíngico labirinto de sons a sugerir duas dimensões: ora estimulavam pelo impressionismo, agarrando o ouvinte pelo cérebro, ora encantavam pela fábula, trazendo a primeiro plano utopias de criança.

Go Go Smear the Poison Ivy, quinto registo de estúdio, convoca os mesmíssimos postulados de complexidade estrutural e de conceito formal - o que, por si só, enquanto indício de uma certa resistência à inovação, não seria bom prenúncio. Pior do que isso, o álbum foi criado sob um condicionalismo decisivo para o esvaziamento das fantasias características dos Múm: a indisfarçável ausência do canto de menina sonhadora de Kristín Anna Valtýsdóttir. A omissão dessa substância intrínseca à magia habitual dos Múm (e a consequente substituição por vozes dos dois géneros), não sendo um desfalque irreparável, atirou o som do grupo para um espaço de alguma indefinição, à procura do enlace certo entre ciências electrónicas e vozes mais "adultas". A coisa nem sempre resulta tão bem como na espacial "Dancing Behind My Eyelids" mas, ainda assim, o álbum tem algumas coisas boas, atrás de dois pecadilhos: não foram aproveitadas as mudanças no alinhamento da banda para dar ao som dos Múm a transformação que urgia fazer e, a outro nível, parece difícil imaginá-los nesta mistura sem a voz de Valtýsdóttir. O disco é coisa apenas para seguidores, portanto.

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