domingo, 12 de agosto de 2007

Chuchurumel - Posta Restante

7/10
Edição de Autor
2007
www.chuchurumel.com



Concebido como se fosse uma colecção de cartas musicadas com destinatários escolhidos entre um rol de entidades (pessoas e estímulos) que, de uma forma ou de outra, marcaram o percurso do conceito Chuchurumel, o segundo álbum imaginado pelos guardenses César Prata e Julieta Silva retoma algumas das pistas sugeridas pelo trabalho de estreia. Não é difícil descodificar a fórmula musical desvendada por Posta Restante; ela é, sobretudo, alicerçada no conhecimento profundo das mais arreigadas tradições musicais lusas - onde, de resto, a dupla recolhe algumas das substâncias cruas mais valiosas do seu som (os fraseados melódicos da concertina, da sanfona, da ocarina ou da gaita-de-foles são exemplos) - e na competentíssima integração dessas matérias nos reflexos de modernidade das programações e dos sons processados. Embora não seja fácil domar uma linguagem assim atemporal, com os olhos a venerar o passado e as mãos a esculpir o presente de amanhã, o novo opus dá mostras, não havendo abrandamento da cisma experimentalista que se conhecera no debute, da afinação do discurso (por comparação com No Castelo de Chuchurumel). Com efeito, o pacto do tradicional com o contemporâneo é muito mais espontâneo e eloquente, produzindo uma obra de consistência assinalável e em que as fragrâncias de modernidade já não parecem furos no manto de memórias. Organicamente fértil e construído com uma sensibilidade rara, Posta Restante é um dos mais sólidos argumentos que a música tradicional viu serem escritos em seu favor nos últimos anos. E, ironia suprema dos talentos de César Prata e Julieta Silva, a melhor defesa dos ensinamentos etnográficos e da imprescindível fecundidade da tradição é, afinal, servida em revestimentos da mais fina modernidade. (Bons) sinais dos tempos...

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