sábado, 29 de julho de 2006

Ellen Allien & Apparat - Orchestra of Bubbles

Apreciação final: 8/10
Edição: Bpitch Control, Maio 2006
Género: Electrónica/IDM/Techno Experimental
Sítio Oficial: www.ellenallien.de
www.apparat.net








Não sendo desconhecido dos amantes da electrónica europeia recente, o projecto Apparat (saído da mente de Sascha Ring) é parte de um espaço devoto da abstracção e do minimalismo, tendo concorrido para dar outros diâmetros à moderna electrónica berlinense de cariz minucioso. Mentor de universos musicais virtuais que contestam os clichés da mecânica da música digital, Ring é destro a manobrar atmosferas que tomam o temperamento da techno e da IDM, mesclando-o com elegias emocionalmente cerradas, em encadeamentos quase maquinais, frios e duradouros. Se a ele se junta outra artesã categorizada da seminal escola de Berlim, Ellen Allien, estrela ascendente da techno vocalizada e abono certo de infusões pró-eróticas em cadências electro, parecem colar-se desígnios opostos. De um lado, os preciosismos técnicos e a percepção cirúrgica de Apparat, do outro, a fartura sensual e os rasgos de Allien. A erudição pragmática de Berlim faz o improvável, fomentando uma química de assimilação entre o farto chafariz de subversões de Allien e a urgência de penso-rápido Ring, infalível a conciliar os nacos do disco. A simetria das matérias não tem mácula e apura uma acção simbiótica menos expectável, não se limitando a sobrepor os discursos individuais dos músicos, antes, munindo cada um com novas alavancas e renovada propulsão. À sobriedade torta de Apparat é adicionado um desprendimento sensorial, um novo oxigénio que lhe alarga as vistas; do mesmo jeito, em sentido inverso, à megalomania imoderada de Allien é ministrada a posologia certa de sedativos. O som é o desenlace óbvio da terapêutica: de pulsação nocturna, feito de transparências, luzes trémulas e cores diáfanas, a cansar as leis gravitacionais de Newton, imaterial e borbulhante. A genuína orquestra de bolhas.

Orchestra of Bubbles não é música de reacções absolutas, é dança subtilmente feita pudor, executada ao canto da sala de estar (a pista de dança é apetite ambicioso de mais?) ou de phones no ouvido. Grata é a descoberta de que os músicos não se confinam às usuais impressões iconoclastas, aceitam a aposição de ideias e arquitecam um edifício sonoro que, mesmo carregado de experiências e intuições diferentes, não tem partículas saturadas. Em especulação por planos quase virgens da electrónica, a dupla Allien/Ring vai no encalço de futuros alternativos para a música de dança. Orchestra of Bubbles, exercício magno de cooperação entre ícones da electrónica minimalista, faz o primado do instrumento digital e é obrigatório para seguidores de Allien e/ou Apparat. Para os restantes, o álbum é uma dádiva da melhor electrónica que se (ou)viu no corrente ano.

Posto de escutaTurbo DreamsRetinaJet

3 comentários:

Spaceboy disse...

Outro dos meus discos preferidos...

janela amarela disse...

é uma orquestra de bolhas a dançarem entre os ouvidos de quem o escuta com atenção... e com umas boas colunas de som. Um dos melhores deste ano, sem dúvida.

Anónimo disse...

Olá amigo, parece-me bom, gostava de dar uma escutadela.

ABRAÇO