sábado, 10 de junho de 2006

Mission of Burma - The Obliterati

Apreciação final: 8/10
Edição: Matador, Maio 2006
Género: Rock Alternativo/Pós-Punk
Sítio Oficial: www.missionofburma.com








O percurso dos Mission of Burma divide-se em duas etapas. Eles surgiram na cena pós-punk de Boston, em plena década de 80, introduzindo alguma sofisticação musical e um perfume arty aos padrões musicais da época. As duas edições do grupo, o EP Signals, Calls and Marches (1981) e do primeiro longa-duração, Vs., no ano subsequente, impuseram o som distintivo do grupo: ritmos mexidos, tempos e estruturas pouco ortodoxas, composições enigmáticas e um clima de assalto sónico corrosivo. E repetições caóticas, claro está. Em volume alto e sem slow motion. Com estes dois lançamentos a estabelecerem as bases de um novo caminho para o rock alternativo, foi com surpresa que os fãs do grupo assistiram ao seu desmantelamento em 1983, depois de uma tournée que viria a ser registada em disco. O regresso, quase ocasional, viria a acontecer praticamente duas décadas depois, na sequência de um punhado de actuações em conjunto dos seus membros originais que, em última instância os empurrariam para o estúdio para gravar OnOffOn, registo que chegaria aos escaparates em 2002. A segunda encarnação do colectivo americano colheu a admiração da crítica e o lapso de tempo não minorou as qualidades idiossincráticas da sua sonoridade. Os nacos límpidos de guitarra de Roger Miller, a dinâmica propulsiva do baixo de Clint Conley e o músculo da percussão de Peter Prescott estavam todos lá.

The Obliterati é o segundo registo desde o ressurgimento da banda. E, também, o mais vigoroso. Os vectores artísticos dos Mission of Burma são uma constante, provando a sua imutável propensão para fundir, com argúcia, os fundamentos da escola punk com qualquer coisa de ambição maior, feita de um discurso rock prolífico (elogio!), com mudanças de pele incessantes, uma energia epidémica e um conceito artístico oblíquo. Inconfundível, assim se dispõe o tom dos Mission of Burma. Tão influenciadores agora como há vinte anos atrás. The Obliterati é tão bom que nem sequer deixa espaço para a nostalgia; afinal, os Mission of Burma não fogem da bitola de excelência que edificaram. Melhor do que isso, eles vão buscar os mesmos esboços do começo e conseguem, sem soar anacrónicos, provar a intemporalidade do seu som. Discos como The Obliterati e bandas como os Mission of Burma não são de tempo nenhum, são preciosidades para estimar sempre. Agora, há uma vintena de anos ou daqui a outros tantos.

Sem comentários: